Valeriana - o que uma raiz que cheira a chulé ensina sobre força
“Cheira a chulé, acalma como o anjo”
Valeriana (Valeriana officinalis)
“Não force”.
Quer uma experiência sensorial... diferente? Compre valeriana in natura, em alguma loja de produtos naturais próxima. Agora, prepare um chá: deixe as raízes em infusão. Inspire fundo! E sinta o “aroma” de chulé “perfumando” a sua casa inteira. Eu já tive essa experiência – e posso te garantir que as pessoas ao redor vão te questionar que cheiro... errr, peculiar, é esse. Valeriana tem um cheiro inegavelmente forte – e não muito agradável.
Aliás, “forte” está no DNA da valeriana: ela carrega isso em seu próprio nome. A principal teoria é que seu nome foi cunhado de um verbo em latim – valere, que significa “ser forte”, “ser corajoso” ou “ter boa saúde”.
Examinar a etimologia do nome “valeriana” parece ser um exercício tolo. Ledo engano. As raízes (trocadilho não intencional) do nome entregam muito do conhecimento que os antigos tinham sobre a valeriana. Em mais detalhes, o nome valere carrega os seguintes significados:
● Ser fisicamente poderoso,
● Ter poder ou força,
● Estar em excelente saúde,
● Possuir poder militar, político ou recursos,
● Ser formidavelmente superior
Agora... A contradição fundamental que se impõe é: o que diabos uma planta usada para dormir tem a ver com força? “Sono” e “poder militar” parecem dois vocábulos a um abismo de distância um do outro. Será que antigamente a valeriana era usada para outros fins?
Não. Seu uso tradicional é, de fato, para “aliviar noites de insônia e a tensão do sistema nervoso”. Sua reputação, portanto, sempre foi a de uma planta sedativa – um conhecimento compartilhado por gregos e romanos antigos. Em farmacopeias antigas, a valeriana figurava como uma planta para tratar “histeria”, “sensibilidade excessiva” e insônia.
Isso sugere que a “força” que a valeriana carrega em seu nome não é sobre fazer mais barulho. Não se trata de aumentar a energia física ou entregar um efeito estimulante. A valeriana traria uma “força” silenciosa e, arrisco dizer, mais poderosa: a de uma mente que está mais resiliente e poderosa por meio do relaxamento e de um sono melhor.
Sono como força talvez seja um conceito que os antigos sabiam intuitivamente. E que hoje estudiosos estadunidenses, na Frontiers defendem: “O sono pode ajudar ou atrapalhar a resiliência. Por exemplo, o sono de alta qualidade pode otimizar funções neurobiológicas como a cognição e a estabilidade emocional”, assinalam [1]. Ou seja: um sono de qualidade promove um “fortalecimento psíquico”: blinda contra os impactos negativos do estresse no humor e garante uma melhor autorregulação emocional. Está aí a minha teoria do porquê a valeriana – reverenciada por seus efeitos sedativos – recebeu um nome que carrega “força” e “saúde” em sua essência.
Ao favorecer um descanso profundo e reparador, a valeriana entregaria força real: equilíbrio psíquico e estabilidade emocional. O oposto disso? Um excesso de energia sem propósito, nem foco direcionado – como na “histeria”, termo dos antigos para hiperreatividade emocional e descontrole nervoso. Isso poderia soar como força – explosões de ira e cólera, ações enérgicas e enfurecidas, reações intensas como a erupção de um vulcão. Mas essa energia excessiva, na verdade, revela uma fraqueza e debilidade – a incapacidade de regular a si mesmo, conter impulsos, organizar comportamentos e controlar emoções instintivas. E a valeriana era usada para remediar isso, por sua capacidade de “acalmar a excitação nervosa”. E de ajudar o indivíduo agressivo ou agitado a descansar – a única maneira de recuperar um sistema nervoso “bem nervoso”, mas fragilizado e irado.
Portanto, sim – calma é fortaleza. Com uma mente mais clara, conseguimos direcionar melhor a energia para onde ela realmente importa. A filosofia é, de fato, muito bonita. Mas resta verificar se a ciência moderna oferece respaldo para os efeitos regeneradores da valeriana. Eu fui pesquisar os estudos e te conto abaixo.
A Valeriana chega aos laboratórios modernos
“Traz o sono dos anjos”
"Ela cheira como os pés do diabo, mas traz o sono dos anjos," sussurra a velha curandeira, entregando o pequeno saco de raízes secas de valeriana à jovem trêmula e com olheiras profundas. Na Europa do século XVII, a valeriana tem a reputação de regenerar o espírito aflito e exausto. A moça olha duvidosa para o embrulho malcheiroso, mas seu desespero por acalmar seus nervos – e conseguir uma boa noite de sono – é maior que sua hesitação. "Prepare como um chá” instrui a curandeira. “E lembre-se: a força vem com o descanso."
Séculos depois, cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Hallym, uma das melhores da Coreia, colocam esse conhecimento tradicional à prova. No Laboratório de Neuromodulação Mental – um nome meio futurista, não? – uma jovem se senta quieta enquanto um técnico ajusta uma touca repleta de 64 eletrodos em seu couro cabeludo. Ela usou cápsulas contendo aquela mesma planta – a valeriana – por quatro semanas. Agora, da sua cabeça, partem fios coloridos, como serpentes modernas, que transformam as mais íntimas conversas e burburinhos neuronais em linhas e cores nas telas dos computadores. Os pesquisadores estão interessados em decifrar se a valeriana é capaz de produzir mudanças reais no funcionamento do cérebro.
Para isso, os cientistas coreanos dividiram um grupo de 64 pessoas sob estresse psicológico em dois: os que receberam cápsulas contendo 100 mg de valeriana três vezes ao dia, e os que receberam cápsulas idênticas, mas com farinha (placebo) [2]. Nem os pesquisadores, nem os cientistas sabiam quem estava usando o quê – uma forma de reduzir vieses. Para desvendar a assinatura neurológica da valeriana, todo mundo passou por um eletroencefalograma: antes da intervenção e após 4 semanas de uso das cápsulas. O eletro, quase como um BBB do cérebro, permite gravar minuciosamente a atividade elétrica de várias regiões da massa cinzenta em tempo real. A questão que urgia aqui era: afinal, será que aquela raiz fedorenta, um mês depois, poderia ALTERAR ondas cerebrais e a comunicação de uma região com a outra?
A resposta foi um surpreendente e inequívoco “sim”. Os monitores revelaram que a valeriana “sintonizou” o cérebro de quem a usou em “alfa” – uma frequência neural que reflete um estado emocional sereno e atento. Sabe aqueles momentos de clareza interna quando você está caminhando tranquilamente na natureza ou admirando um pôr-do-sol na praia? Bem, meu amigo, seu cérebro está vibrando em alfa aí. O que a valeriana fez – e o placebo não – foi conectar regiões do cérebro (especialmente na parte frontal, ligada à regulação emocional e maestria cognitiva) em “alfa”. É o que os pesquisadores chamam de “aumento de coerência alfa”.
Do neurologuês pro bom e claro português: um cérebro anteriormente estressado, 4 semanas pós-valeriana, passa a operar mais zen. Não um “zen” bobão – mas um atento. Regiões do cérebro envolvidas na autorregulação emocional e intelecto passam a costurar conversas que são mais calmas, harmônicas e bem-articuladas. Como em negociações diplomáticas onde as duas partes estão claramente se entendendo. E o reflexo disso? Quanto mais sincronização alfa, mais relaxadas essas pessoas se sentiam.
"O fortalecimento da coerência das ondas alfa no eletroencefalograma (EEG) frontal após a ingestão do extrato de valeriana parece estar associado à ação ansiolítica”, destacam os autores do estudo. “Em nossos achados, o aumento da coerência alfa foi mais proeminente na região frontal do cérebro. Há evidências de que a maior coerência frontal no EEG está positivamente associada à integração neurofisiológica, flexibilidade cognitiva e ao processamento de informações entre diferentes áreas do cérebro, enquanto a coerência reduzida está associada ao envelhecimento, depressão e esquizofrenia”, finalizam.
Uma segunda mudança intrigante ocorreu. A valeriana baixou o volume das frequências theta – marcadores elétricos de sofrimento emocional. Sabe quando você está preso numa espiral de pensamentos negativos? Seu cérebro está vibrando em theta nessas minisessões de autotortura. A valeriana – mas não o placebo – diminuiu a comunicação theta, resgatando o cérebro desse mergulho angustiante em preocupações e estresse psicológico. É como se a raiz tivesse desemperrado aquelas conversas cerebrais que mais se assemelham à DRs de casais juntos há 20 anos: um lado fala por cima do outro, desenterram memórias do passado e ninguém se entende.
Os autores escrevem elegantemente que “a conectividade baseada em theta em estado de repouso é mais forte em pacientes com transtorno de ansiedade social”. E completam dizendo que, quando regiões do cérebro estão sintonizadas nessa frequência, isso “representa atenção a pensamentos ou emoções negativas”. Concluem: “Portanto, a diminuição da coerência teta observada no grupo valeriana pode refletir efeitos terapêuticos da planta relacionados ao processamento emocional”.
Nós voltaremos a conversar mais sobre esse estudo logo mais.
Joinha para uma mente menos reativa
Antes, nós vamos até Nova York – onde, em 2017, um grupo de pesquisadores também desnudou impactos da valeriana no cérebro humano [3]. Os estavam interessados em verificar se uma única dose do extrato da planta poderia impactar no quanto o córtex – a parte mais superficial e nobre do nosso cérebro – está “ligado”. Ou seja: se as sirenes da nossa parte mais racional estão hiperalarmadas – ou, do contrário, menos reativas e disparando de maneira mais equilibrada.
Para isso, eles lançaram mão de um método mais engenhoso do que um eletro: Estimulação Magnética Transcraniana (TMS). Imagine uma “varinha mágica” que, sem tocar o cérebro, consegue ativar neurônios específicos – e fazer a gente mexer um músculo, por exemplo. É exatamente isso: uma trata-se de uma bobina em forma de oito que, quando ativada, gera um campo magnético poderoso o suficiente para atravessar pele, osso e membranas. Ao direcionar esse estímulo para uma região do cérebro específica, a pessoa mexe involuntariamente o polegar – de um jeito meio Poltergeist. Por fim, eletrodos no dedo mensuram a intensidade dessa contração muscular, oferecendo um retrato do quanto o cérebro está excitável ou reativo.
Quando universitários saudáveis receberam uma única dose de 900 mg de extrato de valeriana, a intensidade da contração do polegar diminuiu significativamente apenas uma hora após. Em termos técnicos, a facilitação intracortical (ICF) – uma medida do quanto os neurônios estão “alertas” e prontos para reagir a estímulos – caiu de 150,9% para 114,8% uma hora após o uso da valeriana. Quem usou placebo permaneceu com essa medida inalterada (153,4% para 155,5%).
É como se a raiz tivesse “baixado a guarda” do cérebro. Sabe quando um barulho inofensivo te faz pular da cadeira – e você logo percebe que não era nada demais? Atirar primeiro, perguntar depois. A valeriana reduziu essa tendência de reação exasperada – o que poderia indicar um cérebro mais contido, focado e tranquilo.
Uma orquestra toca nos bastidores
A visão global? A nossa raiz fedorenta está “fazendo algo” no cérebro: reorganizando conversas internas para um tom e padrão menos hipervigilante e caótico – e, sim, mais calmo e coeso. Temos uma assinatura eletroneurofisiológica clara. A ciência moderna, através da sua parafernália tecnológica – eletroencefalograma e TMS – tem uma visão intimista de como aquela mesma valeriana da curandeirados tempos medievais afeta o cérebro humano. Ela está diminuindo a excitação do córtex cerebral, reorganizando diálogos internos que redes de neurônios tecem entre si, e mudando a frequência das ondas cerebrais. Seja de imediato, seja ao longo das semanas.
Mas sabe o que é mais surpreendente? Mesmo que a valeriana engendre essas mudanças físicas, orgânicas, mensuráveis, demonstráveis por marcadores objetivos... Quem usa pode não sentir nada demais. Quando a gente volta aos laboratórios da Coreia do Sul, tanto os voluntários que usaram valeriana, quanto os que usaram placebo relatam, ao fim de 4 semanas, que se sentem mais calmos. Um ansiolítico muito potente, como um Rivotril, teria forjado uma tranquilidade química que seria muito mais intensa que a do placebo. A da valeriana, contudo, foi uma serenada chinfrim, igual ao placebo. Só que ela de fato mudou o cérebro. Ela venceu – mas ninguém notou.
Estudos mostram que a valeriana reorganiza o cérebro. Mas nós não percebemos nada.
É como se a valeriana fosse um maestro competente de uma orquestra clássica. Como vimos, ela reorganiza redes neurais, aumenta a coerência alfa. Sob a valeriana, regiões do cérebro passam como, numa bela valsa, operarem de maneira harmônica, em sintonia e equilíbrio refinado. A valeriana, como vimos também, diminui a excitabilidade do córtex cerebral – ou seja, abaixa os ruídos excessivos que atrapalhavam a apreciação da orquestra. Enquanto isso, quem estava usando placebo, tinha mais sincronia theta e excitabilidade, um padrão que reflete ruminação e angústia emocional. Sob placebo, o cérebro desses jovens sob estresse era mais próximo de uma rave com música eletrônica – batidas repetitivas, rápidas, intensas, volume alto, desorganização sensorial.
Mas ambos se sentiam mais calmos – ambos ouviam uma orquestra! A única ressalva era que, quanto mais as ondas alfa aumentaram, maior foi a percepção de redução da ansiedade. Ou seja, estatisticamente, houve uma bela correlação entre coerência cerebral e bem-estar emocional. Mas o extrato de valeriana, no todo, não ganhou do placebo.
““Embora nenhum efeito do extrato de valeriana tenha sido detectável por questionários psicológicos, medidas neurofisiológicas podem capturar seus efeitos benéficos no cérebro”,”
A valeriana alterar o cérebro, mesmo sem o sujeito se dar conta, é um paradoxo fascinante. Não é exclusivo dela: até mesmo substâncias bem mais “agressivas” do ponto de vista psicofarmacológico – como a bupropiona, que explicarei em outra oportunidade – podem passar imunes e ilesas à nossa percepção, ou pelo menos sem anúncios estrondosos (a ponto de serem algo como “claramente, isso não é placebo!”). Mesmo que, nos bastidores dos nossos labirintos sinápticos, essas substâncias estejam mudando um monte de coisa de lugar. É quase uma piada moderna: a ciência ajuda a comprovar que somos perfeitos tolos que não conseguem perceber o que está rolando dentro da nossa própria cabeça. Não há “lavagem” cerebral – mas substâncias psicoativas organizando reformas cerebrais completas – enquanto a gente sorri e diz: “ah, me sinto normal (risos). Talvez um pouquinho mais calmo”. Hoje, os olhos veem – os dados mostram. Mas o coração ainda não sente.
A mente pode mudar profundamente sem que a consciência registre. Eu irei retomar essa ideia no capítulo X. Agora, de volta à valeriana.
E a valeriana melhora o sono?
Isso é quase o mesmo que perguntar: “café é bom?”. Café pode ser uma água rala servida em copo plástico numa rodoviária – o famoso “cháfé” – ou pode ser um espresso inteiro do Starbucks. Qual dos dois você prefere? Se você não for louco, seus sentidos irão ficar com o Starbucks. Ele certamente garante uma experiência melhor. Não é nenhuma surpresa imaginar que os efeitos estimulantes do espresso também serão mais potentes que os do café aguado da Central do Brasil. Além de ser feito com um pó de café “premium” e de ser preparado por baristas que sabem o que estão fazendo, o espresso concentrará mais cafeína. No fim, é tudo café, certo? Mas café não é tudo igual.
A valeriana segue a mesma lei. Existem várias valerianas disponíveis comercialmente – raízes, cápsulas, comprimidos... De diferentes fornecedores e saídas do forno de diferentes laboratórios (dos mais chinfrim aos mais farmaceuticamente gourmet). Essas valerianas vêm em diferentes preços, embalagens, roupagens – e, tcharam: diferentes qualidades. Algumas serão Starbucks num dia frio, se você tiver sorte. Outras serão... O café requentado da rodoviária numa tarde de 40º C. Essa é uma verdade mestra sobre fitoterápicos – eles podem ser muito bem-feitos, outros pouco mais que farinhas.
Isso ficou evidente numa meta-análise recente que vasculhou 60 (!) estudos clínicos sobre a valeriana [4]. Os resultados eram uma salada: em alguns estudos, as pessoas saíam com uma sensação de “nossa! Que noite de sono gostosa essa” após tomar valeriana. Em outros, essa percepção não rolou. O motivo? É claro que é porque foi tudo jogado no mesmo balaio: versões com a planta inteira, em pó – outras, extratos com padrões variados, alguns muito fracos e de qualidade nem tão Brastemp assim.
A solução é pedir um capuccino. Um extrato padronizado, de qualidade farmacêutica, com um dueto exclusivo valeriana e lúpulo: Remilev. Assim como o café espresso combina bem com leite vaporizado, a valeriana tem mais músculos quando trabalha em dupla – com melissa, passiflora... “Os efeitos terapêuticos podem ser potencializados quando a valeriana é combinada com plantas parceiras adequadas”, dizem os pesquisadores da meta-análise. A dupla imbatível da valeriana, o Robin pro seu Batman: lúpulo (Humulus lupulus).
Essa é a dupla mais estudada para a valeriana. E seus resultados são muito consistentes. “Todos os 7 estudos que examinaram os seus efeitos no sono (...) observaram melhoras”, contam os pesquisadores da meta-análise. No Brasil, há um extrato clinicamente validado de valeriana-lúpulo: Ze 91019. Um nome “inspirador”. Soa como se um farmacêutico tivesse adormecido sobre o teclado durante a catalogação. Esse extrato patenteado é a fórmula do medicamento sob prescrição Remilev. Seu diferencial? Ele funciona.
Prepare um capuccino e venha comigo.
Capuccino: o extrato padronizado Ze 91019
O que torna o Ze 91019 especial é que ele faz dormir mais rápido – e melhor. Não é pouco para um fitoterápico.
Imagine-se deitado na cama, olhando para o teto. O relógio marca 23:15... depois 23:45... depois 00:15. É a rotina familiar de quem sofre com insônia. Num estudo duplo-cego, pacientes como este participaram de um experimento. Alguns receberam placebo, outros valeriana, e um terceiro grupo a combinação valeriana-lúpulo (Ze 91019).
A combinação reduziu em quase uma hora o tempo para pegar no sono. O grupo placebo batalhava por 70 minutos para adormecer, o grupo valeriana levava ainda 24 minutos. Mas quem recebeu o Ze 91019 deslizava gentilmente para o sono em apenas 12 minutos. Mas ele não faz só dormir mais rápido: também promove um mergulho nas fases mais restauradoras de sono. Quem tomou o extrato passou significativamente mais tempo no sono de ondas lentas – o sono profundo.
Noutra investigação, cientistas conectaram pacientes com insônia a uma complexa rede de sensores para mapear cada suspiro, cada movimento ocular e cada onda cerebral durante a noite. Duas semanas após o uso de Ze 91019, esses pacientes adormeceram 33% mais rápido. Aqueles irritantes despertares noturnos que fragmentavam o descanso diminuíram pela metade. E a arquitetura do sono foi completamente remodelada – eles passavam menos tempo em sono superficial e mais nos estágios de descanso profundo.
Esse estudo não teve controle por placebo – uma limitação metodológica – mas os dados objetivos da polissonografia revelam uma assinatura sedativa clara para a valeriana-lúpulo.
Mais fascinante ainda é que esse extrato parece operar em sintonia com os próprios ritmos naturais do corpo. A valeriana, por exemplo, intensifica os sinais de uma molécula chamada adenosina — um mensageiro químico que diz ao cérebro: já deu, é hora de descansar.
Conforme pensamos, caminhamos, conversamos e gastamos energia, o cérebro vai acumulando adenosina. É como se cada atividade colocasse uma moedinha num cofre invisível. Ao final do dia, o cofre transborda — e os olhos pesam.
A cafeína interfere nesse sistema. Ela bloqueia os receptores de adenosina. O corpo está cansado, mas o cérebro deixa de receber esse aviso. Resultado: nos sentimos artificialmente despertos. A valeriana faz justamente o oposto. Ela ativa os receptores de adenosina, reforçando o sinal natural de cansaço e facilitando o adormecer.
Em um estudo fascinante, pesquisadores deram cafeína a voluntários — o suficiente para alterar seu EEG e dificultar o sono. Depois, administraram valeriana. O resultado? A valeriana neutralizou os efeitos da cafeína no cérebro, restaurando o padrão de ondas associado ao início do sono.
O lúpulo, por sua vez, parece atuar em outro canal natural do sono: ele ativa os receptores de melatonina — o hormônio liberado no escuro que sinaliza ao cérebro que é noite.
Juntos, valeriana e lúpulo não forçam o sono. Apenas restauram os sinais que o corpo já conhece — entregam ao cérebro uma mensagem que ele mesmo costuma escrever: está escuro, e já deu.
Como diz o pesquisador Uwe Koetter:” O tratamento da insônia deve favorecer os mecanismos fisiológicos naturais do sono — e não apenas "desligar a vigília", como fazem alguns medicamentos prescritos ou de venda livre. (...) Trabalhando em harmonia com os processos naturais do corpo, valeriana e lúpulo se aproximam de imitar o ritmo biológico do sono”.
A força silenciosa
Reduzir o tempo para adormecer de 70 minutos para 12 minutos é resgatar uma hora de vida todas as noites. Ou mais – porque quem já sofreu se revirando na cama conhece aquela distorção da temporalidade, em que cada minuto se arrasta eternamente. Aqui, o Ze 91019 foi a diferença entre o tormento de estar preso numa lucidez involuntária, e o alívio de gentilmente adormecer.
Mas há duas formas de fazer alguém dormir farmacologicamente.
A primeira é o nocaute: um golpe preciso que interrompe a consciência. Eficaz, imediato, indubitável. Como um general de guerra, belicoso e autoritário, que chega ao cérebro e, armas à posto, dá um sossega-leão. O corpo cai, os olhos fecham. Missão cumprida. É o sono como rendição forçada, como desligamento. É quando o remédio impõe o silêncio – tratorando os mecanismos naturais de adormecer do corpo. Ele não quer saber, não respeita o corpo.
A segunda é mais diplomática: não impõe, mas convida. Não derruba, mas embala. Como emissários da ONU em missão de paz, essas substâncias não levam a consciência à guilhotina. São chanceleres: trabalham em cooperação com a consciência – e, de mãos dadas, a ajuda a cruzar a fronteira para o adormecer.
Na farmacologia do descanso, há muito mais exemplos do primeiro grupo. Entre os pesos-pesados, estão antipsicóticos e benzodiazepínicos. Benzodiazepínico é um apelido pomposo para drogas da família do famoso Rivotril (clonazepam), como seus primos diazepam (Valium) e alprazolam (Frontal). Com seus canhões, são eficientes na missão: derrubam rapidamente. Induzem um estado que, tecnicamente é sono – mas com uma sequência bagunçada, longe de uma arquitetura de sono natural e restaurador.
Já a valeriana, especialmente quando dança com o lúpulo no extrato Ze 91019, não é uma boxeadora que silencia os neurônios como interruptores – parece mais uma maestrina que reorganiza as conversas internas. Aumenta o tempo em sono profundo (sono de ondas lentas) sem suprimir o REM. Permite que o cérebro continue sua sinfonia noturna, apenas a coordena gentilmente. A combinação de valeriana e lúpulo não tem a força de um benzo, mas pode cobrar um preço cognitivo e emocional menor.
Como diz Uwe Koetter, o Ze 91019 atua “dentro do corpo – e não contra ele”. Esse contraste não é apenas farmacológico – ele pode ter implicações práticas na vida das pessoas.
Encruzilhada
Imagine dois caminhos paralelos:
De um lado, alguém tratando sua insônia com benzodiazepínicos. Esse sono fabricado, forçado, vem com uma ressaca cognitiva, dependência silenciosa e gradual transformação na relação com o próprio descanso. “Preciso de algo que me derrube para dormir”. O uso crônico de benzodiazepínicos vêm sendo associado a transtornos psiquiátricos e mesmo síndromes demenciais.
Do outro, alguém que recorre à valeriana-lúpulo. O sono não vem por meio de um AI-5 – e sim de um acordo diplomático, em que esse fitoterápico trabalha em consonância com os ritmos naturais do corpo. Ele aumenta o tempo nas fases mais profundas de sono, aquelas em que o cérebro consolida memórias, processa emoções e limpa toxinas.
O que me surpreende é imaginar: ao longo dos meses, essas duas pessoas se tornariam diferentes. Não apenas nos padrões de EEG ou na qualidade subjetiva do descanso. Mas na forma de estar no mundo. Na tolerância à frustração. Na clareza de pensamento. Na capacidade de sentir nuances emocionais. É uma especulação – mas uma que ressoa com os estudos que vimos.
Esta é, talvez, a sabedoria ancestral que ressoa em seu nome: valere – ser forte, ter boa saúde – vem não de dominar o corpo, mas de respeitá-lo. Não de silenciar seus sinais, mas de amplificá-los.
O que se desenha, nas entrelinhas dos estudos sobre valeriana, é uma série de transformações sutis: um cérebro menos reativo e impulsivo, que pensa antes de sair atirando; uma mente que habita o paradoxo de estar simultaneamente alerta e tranquila, como na meditação mais profunda; e um diálogo interno que deixa de ser um tribunal obsessivo, cheio de ruminações angustiantes, para se tornar uma conversa mais calma. Combinada ao lúpulo, a valeriana promove um sono profundo e restaurador, por meio de sistemas endógenos do adormecer: melatonina e adenosina.
Já os benzodiazepínicos, também usados para ansiedade, oferecem uma aparente "força" imediata ao silenciar os sintomas. Você sente. Mas causam uma fragilidade profunda: é como usar muletas por tanto tempo que os músculos atrofiam. Os benzos desligam o menor dos estresses – em vez de aumentar a resiliência para lidar com eles. As conexões neurais adaptativas ficam cada vez mais frágeis.
Nenhuma das mudanças da valeriana anuncia sua chegada com trompetes – elas se infiltram silenciosamente nos interstícios neurais, reorganizando ondas cerebrais e a comunicação de algumas regiões, sem impor. É uma revolução gentil que talvez só percebamos por seus frutos: decisões mais sábias, momentos de presença mais frequentes, uma mente que, mesmo sob pressão, respira antes de reagir.
Isso é força.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] The promotion of sleep wellness: Resilience as a protective factor.
Allan, A. C., Gamaldo, A. A., Gamaldo, C. E., Gunia, B. C., Al Abdul Razzak, I. M., Ighodaro, E., & Salas, R. M. (2023). Frontiers in Sleep, 2, 1133347. https://doi.org/10.3389/frsle.2023.1133347
[2] Valerian extract alters functional brain connectivity: A randomized double‐blind placebo‐controlled trial.
Roh, D., Jung, J. H., Yoon, K. H., & Lee, C. H. (2019). Phytotherapy Research, 33(6), 1658–1666. https://doi.org/10.1002/ptr.62862
[3] Valeriana officinalis root extract modulates cortical excitatory circuits in humans.
Mineo, L., Concerto, C., Patel, D., Mayorga, T., Paula, M., Chusid, E., Aguglia, E., & Battaglia, F. (2017). Neuropsychobiology, 75(1), 46–51. https://doi.org/10.1159/000480053